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A difícil experiência do tédio gerada pela pandemia


Conforme a pandemia persiste, o tédio se aprofunda na vida cotidiana, e torna-se um dos efeitos psicológicos mais frequentemente relatados durante a quarentena.


Isto até pode parecer banal, quando comparado ao contágio massivo, as incertezas e instabilidade econômica, e as tantas mortes que assistimos todos os dias, mas o prolongamento desta experiência pode gerar problemas bem sérios.


Estudos apontam que pessoas com dificuldades em manejar o tédio têm mais chance de descumprirem os protocolos de saúde e desrespeitarem as regras de distanciamento social.


O tédio relaciona-se um ao sentimento de profunda insatisfação com o mundo ao redor e, por consequência, promove um desinteresse pelas atividades disponíveis, seja trabalho ou algum entretenimento ao alcance, e dentro dos protocolos de saúde.


A atividade que está disponível torna-se sem sentido e enfadonha por algum motivo, e esse sentimento de inquietude e dispersão é como um comunicado de nosso cérebro nos provocando a encontrar novas atividades que possam apaziguar certo estado de angústia.


A experiência de tédio tem forte relação com comportamentos de risco e autodestrutivos, bem como o incremento no uso de substâncias e álcool.


Em um recente estudo sobre tédio e a pandemia, participantes espontaneamente aplicaram choques elétricos em si mesmos, para evitarem estar sozinhos e sem qualquer entretenimento, além de seus próprios pensamentos.


Este achado é de fato perturbador e revela o quanto, para alguns, o fato de estarem solitários e com pequena variação em suas rotinas, pode ser um disparador de sofrimento mental e comportamentos de risco.


Esta experiência não é vivida por todos do mesmo modo. Erin Westgate, professora assistente de psicologia da Universidade da Flórida nos EUA, relata que o tédio é definido por uma dificuldade de focar-se em uma tarefa que é percebida como muito difícil, muito fácil ou insignificante para nós no momento.


Conclui que podemos ficar entediados por várias razões, por não ver amigos/familiares ou por não ter muito que fazer. Outro ponto refere-se a sobrecarga de atividades, como o trabalho e o cuidado dos filhos e da casa, neste caso o tédio refere-se ao sentimento de impotência por terem muito a fazer e perceberem dificuldades de concentração em uma tarefa especifica.


Westgate aponta outro agravante, que é a experiência universal gerada pela pandemia, que é a perda de controle, o que trouxe prejuízos significativos à nossa autonomia, ou seja, nos vemos com menos recursos pessoais e psíquicos para resolver esta situação do tédio, que anteriormente seria mais simples de resolver. "Seja o que for que esteja deixando as pessoas entediadas no momento, por causa da pandemia, nossas opções para lidar com essas situações são limitadas." (Westgate)


Como lidar com o tédio, mesmo com tantos limites impostos


Um bom modo de ter mais controle sobre a experiência é buscar entendimento sobre o que está provocando tedio, já que este sentimento pode ser disparado por diferentes estímulos em sua rotina, seja o excesso, falta ou ausência de sentido de certas atividades, e agir sobre sua percepção com estratégias assertivas. O sentimento de algo generalizado e sem origem pode aumentar a angústia e produzir atitudes impulsivas, por isto é importante localizar a causa do sentimento.


É possível criar soluções de enfrentamento, sem colocar-se em risco ou fazer escolhas ruins, e podemos encontrar boas alternativas. O tédio também pode encorajar bons comportamentos, como fazer doações para instituições de caridade ou prestar qualquer tipo de suporte. Envolvimento com arte ou atividades terapêuticas, que são poderosos aliados neste momento de crise, também pode ajudar muito.


Trata-se de percebemos este mal-estar e podermos agir sobre isto, criando cenários e situações com propósito para nossas vidas. Diz respeito ao modo que reagimos à adversidade, mesmo com as fortes limitações impostas neste momento.


Westgate sugere a criação de uma lista com propostas de atividades para quando se sente disposto e outra quando se sente com menos energia.


Sinaliza que não precisa ter grandes expectativas quanto ao que deve fazer, como algo grandioso, o objetivo é realizar uma mudança em seu estado mental. Não precisa ser algo complexo ou exigente, diz respeito a fazer algo que pareça significativo naquele momento e com o qual você tenha energia para se envolver.


Vale dizer que esta experiência de tedio não é algo isolado e faz parte de uma vivência subjetiva e emocional e está ligada a diferentes afetos, o seu prolongamento exige resistência e o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento para o dia a dia que podem ser bastante efetivas e funcionais, mas quando o nível de sofrimento for elevado e estiver associado a outros sintomas, como ansiedade, depressão, perda de controle e aumento de consumo de substâncias e álcool, é recomendado acompanhamento de Saúde Mental.


Fonte de referência: https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-56564506


Psicóloga Cristiane Dodpoka

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