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Dispositivos Móveis, e seus excessos. Nem tudo são flores.


Ao sujeito contemporâneo, conectado e bem adaptado aos atuais arranjos sociais, principalmente nos grandes polos urbanos deste globo, tornou-se muito difícil circular pela vida moderna sem um dispositivo móvel.


Seja para garantir sua locomoção, trabalho, educação, entretenimento, acesso a recursos financeiros, redes sociais, alimentação ou serviços públicos, enfim, muito do que a vida continha do lado de fora pulou para dentro das telas, e agora experimentamos formas outras de organização coletiva.


Este vídeo sinaliza o tanto de tarefas que estavam fora do celular e agora são recursos acoplados a um único aparelho, sejam notebooks ou smartphones - https://www.youtube.com/watch?v=DJDBzxBE3Fg


Aqui já conseguimos perceber o quanto nossa forma de trabalhar e comunicar, vem mudando drasticamente desde os anos 80.


A maior parte dos usuários de Internet brasileiros (62%) acessa a rede exclusivamente pelo celular, realidade de mais de 92 milhões de indivíduos. A conclusão é da TIC Domicílios 2022, pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).


Segundo o IBGE , em 2022, 160,4 milhões de pessoas tinham aparelho de telefone celular para uso pessoal no País, 86,5% da população com 10 anos ou mais. A pesquisa sinaliza ainda o crescimento contínuo da posse de telefone celular desde o início da série histórica, em 2016, quando 77,4% da população de 10 anos ou mais de idade possuíam o aparelho.


Essa fatia subiu a 81,4% em 2019, passando a 84,4% em 2021, até alcançar os atuais 86,5% vistos em 2022.


Não haveria espaço neste artigo para analisar o tamanho da expansão tecnológica que estamos atravessando, sobretudo após a popularização do uso de smartphones.


Certamente as comodidades que foram criadas fizeram da experiência cotidiana muito mais simplificada, pelo menos no que diz respeito ao acesso a uma infinidade de serviços e a informação. Me parece que muito do que era burocrático, teve de mudar para se adaptar a estes novos tempos.

" No entanto, esta revolução em curso, tem sido capaz de produzir anomalias que precisam ser endereçadas para que os prejuízos não sejam maiores que os ganhos.
" Esta é uma preocupação antiga da humanidade, já que todo grande avanço tecnosocial traz em si o núcleo de uma disrupção, e por tanto o peso de grandes responsabilidades.

Apesar disto a escala de revolução que assistimos nas últimas décadas, tem uma velocidade e impacto ainda não vistos neste planeta, e exigirá desta civilização a capacidade ética de decidir, sem ingenuidades, o que será parte de um projeto de futuro.


Entendo que a partir de certo tempo de observação dos impactos sociais produzidos, já temos fatos para discutir sobre a urgência de criarmos mecanismos de regulamentações e cuidados, que no futuro espero, farão parte da constante análise e gestão destes processos tecnológicos.


Meu objetivo neste espaço de reflexão é poder apontar riscos e formas de sofrimento que observo, como profissional do campo da saúde mental.

" Tornou-se imprescindível discutir o quanto nesta centralidade que o dispositivo móvel adquiriu na organização da vida, também nos tornamos suscetíveis a uma relação disfuncional com este aparato.

Importante ressaltar que a criação de qualquer tecnologia não se dá em terreno neutro e atende a interesses econômico sociais específicos. Ingenuidades neste campo relacional pode ser bem arriscado.


Quando os smartphones, redes sociais e todas as facilidades que hoje conhecemos chegaram as nossas vidas, aceitamos seus benefícios, como a gratuidade por exemplo, e desconsideramos pontos obscuros como a opacidade dos termos de uso das grandes plataformas. Aderimos sem a devida avaliação e hoje já conseguimos perceber os tantos efeitos a que estamos expostos.


" Muitos efeitos sociais, emocionais e mesmo fisiológicos já são conhecidos por nós diante do uso excessivo das telas.

Prejuízos no sono, dificuldade de concentração, ansiedade, questões relacionadas a autoestima e humor, busca de padrões estéticos inalcançáveis e consequente aumento de procedimentos cirúrgicos.

Quanto aos comprometimentos físicos, observa-se;


  • Problemas na visão

  • Danos as articulações, tensão muscular, dor crônica, inclusive em alteração da coluna cervical.

  • Sedentarismo, atitude que pode levar à obesidade e outras comorbidades.


Esta matéria discute os adoecimentos físicos mais comuns observados por médicos e fisioterapeutas.


Em minha escuta clínica, tornou-se comum as pessoas trazerem este tema para análise, observarem seus prejuízos diante do uso excessivo das telas e cada um à sua maneira e recursos, buscarem formas de enfrentamento e controle. 


Isto é bem positivo e demonstra uma consciência mais ampliada diante do uso das tecnologias. Mas como nem todos tem acesso a serviços de saúde mental ou espaços para discutir tais impactos, muitos ainda seguem vulneráveis, principalmente crianças e adolescentes.

" Sobre os fenômenos psicossociais que trago para reflexão neste artigo, quero sinalizar que na perspectiva que eu trabalho, adoecemos conforme as demandas e pressões de nosso tempo, este é um processo que se dá na interlocução com a cultura que estamos inseridos.
" Evidentemente, alguns indivíduos, por uma série de fatores podem apresentar maior vulnerabilidade ao sofrimento no uso de dispositivos móveis e seus recursos. 
" Ainda assim a responsabilidade por entender o grau dos impactos psicossociais e proteger aqueles que estão mais expostos, é responsabilidade de todos nós em cada campo do saber e nível de influência que exercemos.




Em linhas gerais e para pensarmos sobre algumas experiências afetivas atualmente observadas no uso disfuncional dos dispositivos moveis, cito:


1.   “Fear of missing out” fenômeno no qual a ansiedade atua como um dos principais sintomas. A F.o.M.O pode ser definida como o medo de não conseguir acompanhar as atualizações e eventos, pressionando a pessoa a estar sempre conectada às redes sociais. O FoMO foi citado pela primeira vez em 2000 por Dan Herman e definido anos depois por Andrew Przybylski e Patrick McGinnis.


 2.   Outro conceito discutido na atualidade é o de Nomofobia, refere-se à sensação de medo ou angustia de pessoas quando estão sem seu aparelho celular ou computador. O nome em inglês “no more phone phobia” . Esta síndrome é descrita pelo CID - (Classificação Internacional de Doenças), que foi lançada online em 2018 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Os sinais relatados são : (1) Checar o celular de forma obsessiva; (2) percepção de que a todo instante o celular está tocando ou vibrando; (3) sintomas de abstinência na falta do aparelho, como taquicardia e sudorese; (4) Mentir sobre o tempo que usa o celular; (5) irritabilidade ou alterações de humor diante da ausência de sinal de internet; (6) prejuízo nas relações pessoais; (7) não ser capaz de diminuir o tempo de exposição as telas.


3.   Menciono ainda a dependência a jogos eletrônicos e apostas em geral, que diante da facilidade de acesso e poucas barreiras e regulamentação, tornaram-se absolutamente disponíveis inclusive a crianças e adolescentes.


Este é um convite a "reflexão" ou quem sabe a "ação", por meio deste panorama breve e inacabado, já que a cada dia observamos diferentes impactos psicossociais derivados do uso abusivo de dispositivos móveis. É preciso estar vigilante.


Estou certa que este tipo de discussão ainda fará parte de nossas vidas por muito tempo até que consigamos encontrar modos saudáveis e sustentáveis de relação com esta ferramenta tecnológica, que praticamente tornou-se parte de nosso corpo, e se mal gerenciada tem potencial para tomar "corpo e alma" 

( Obs: Com o termo alma aqui usado, me refiro a tudo que é afetivo, subjetivo, criativo, espontâneo, o suprassumo da condição humana ainda não ciborguisada )


Somadas as nossas obrigações coletivas, de proteção ao desenvolvimento social, a infância e adolescência, e aos mais vulneráveis, penso que para cada um de nós tornou-se inegociável gerenciar o modo que nos relacionamos com as telas, que para além de um inocente recurso de acesso a facilidades, nos deixa frente a tantos outros mundos onde nossas emoções são mobilizadas e capturadas de formas que ainda desconhecemos.


Diante de algo tão grande e poderoso, sugiro diminuir as ingenuidades e fazer do auto-cuidado seu principal instrumento de resistência.


E você, o que tem pensado sobre a centralidade dos smartphones em nossas vidas? Já sentiu os efeitos por ai?

 



Cristiane Dodpoka

Psicóloga Clinica. Atendimentos OnLine a Adultos, Adolescentes e Casais. Especialista em Psicossomática Psicanalítica. Experiência em Saúde Mental e acolhimento a situações de crise. Coordenadora de Grupos Terapêuticos e Círculos de Dialogo. Consultoria e Atendimentos em Saúde do Trabalhador. Estudiosa de CiberPsicologia e CiberCultura.

Para esclarecimentos sobre atendimento Online, Palestras, Rodas de Conversas, Cursos, Grupos de Estudos e Consultorias, me consulte


 Referências 


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