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O DESAFIO DAS RELAÇÕES

Foto do escritor: Cristiane DodpokaCristiane Dodpoka

“Quem tem laços afetivos está em segurança, mas, às vezes, quer liberdade ... Quem não ama, tem total liberdade, mas sente falta do amor, e da segurança que ele proporciona ” - Zigmunt Bauman.


Diante desta contradição apresentada pelo Sociólogo polonês Zigmunt Bauman, penso nas pessoas que se fragilizam emocionalmente ao longo de suas vidas e quando procuram ajuda profissional acabam por se dar conta sobre o quanto foram permissivas em suas relações afetivas, pela própria dificuldade em estabelecer limites mais claros nos relacionamentos, sentem um prejuízo a sua liberdade e alteridade, e a partir desta constatação desejam, mesmo correndo o risco de sofrer alguma retaliação, estabelecer novas fronteiras.


Percebem que mudanças em seus posicionamentos podem ameaçar sua segurança e se angustiam com o tamanho desta ambiguidade. Por conta própria entendem que estão iniciando uma pequena revolução pessoal que os fará inventariar a vida como um todo, suas relações, seus limites e necessidades e como conciliar interesses opostos, avaliam seu funcionamento e percebem respostas cristalizadas, que costumam repetir em certos contextos relacionais, e após algum trabalho de analise pessoal podem acabar por descobrir-se capazes de adquirir maior maturidade e fortalecimento emocional, a fim de promover respostas mais alinhadas ao que de fato desejam mudar em suas vidas.


No entanto, tudo isto carrega um preço, o preço das escolhas e aqui será importante a maturidade para responsabilizar-se pelas consequências do que se escolhe.


Escolher uma experiência pessoal mais autônoma e autentica, certamente vai promover mais saúde, liberdade e crescimento, mas inegavelmente causará também algum desagrado, àqueles que estranharão os novos limites colocados. Penso que este seja o preço, e exigirá entender quando será necessário colocar-se em primeira pessoa, e sustentar suas próprias posições.

Relacionar-se é uma tarefa dinâmica de alta complexidade, que exige constante observação dos outros e de nós mesmos, assim como no questionamento de Baumam, onde analisa o paradoxo entre liberdade e segurança, nos perguntamos diariamente quem vale a pena permanecer em nosso ciclo relacional, onde cabem os sacríficos e devoções e a plena aceitação do desejo alheio.

Penso que este seja um pêndulo, que vive em constante oscilação e que talvez não seja possível equacionar plenamente nossa necessidade por segurança e liberdade, mas sei que uma vida com poucos limites frente às relações, será de fato um tanto perigosa e reduzida de sentidos.

Sem minimizar a raiz da questão, sei que são inúmeras e singulares as razões psicodinâmicas para alguém ter dificuldades em definir limites mais dignos em suas relações, mas concordo com Fernando Pessoa, quando diz “Enquanto não atravessamos nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades”, sejam estas metades românticas ou não.

Esta é uma importante reflexão sobre a lógica das relações afetivas, onde sinaliza que felicidade não virá do outro, mas do encontro e confronto consigo mesmo, e que apesar das dificuldades, no final vale a pena pertencer a si mesmo.


Psicóloga Cristiane Dodpoka

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