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SAÚDE MENTAL, PRECONCEITO E A PANDEMIA

Foto do escritor: Cristiane DodpokaCristiane Dodpoka

Não é novidade que um dos impactos gerados pela pandemia por COVID-19 foi um substancial aumento do sofrimento mental das pessoas.


Fatores como o isolamento social prolongado, trabalho em home office, incertezas econômicas, redução de salários ou perda de emprego, alteração drástica na rotina e cuidados com os filhos e a falta de perspectivas, produziram extrema angustia e alto risco psicossocial a uma sociedade que já não andava muito bem.


Desde o início da pandemia especialistas já alertavam para a importância da ampliação dos investimentos frente aos cuidados de saúde mental em todo o mundo.


Dainius Pura, especialista em direitos humanos, apelou aos países-membros da ONU, à sociedade civil, organizações psiquiátricas e também à Organização Mundial da Saúde, OMS. Alertou que já passou da hora de transformar a maneira como se responde à saúde mental. Pura apresentou um relatório ao Conselho de Direitos Humanos com as recomendações e disse que muito mais deve ser feito na área. Lembrou que atualmente, pessoas com transtornos e doenças mentais ainda são associadas a termos anacrônicos como “loucas” ou “más”, que entendem os comportamentos delas como “perigosos”.


O ponto que eu gostaria de destacar é que mesmo em meio a experiência coletiva do sofrimento mental, sofrimento este identificado como um fenômeno social e generalizado, produzido diretamente pela vivencia de uma crise sanitária, percebo que ainda não desenvolvemos suficiente empatia ou alguma redução do preconceito frente a constatação do adoecimento mental. O estigma prevalece.


Em minha prática clínica percebo o quanto ainda é presente no discurso das pessoas que buscam psicoterapia, psiquiatria e cuidados de saúde mental ampliados, uma grande preocupação quanto aos julgamentos sociais diante de seu diagnostico, de sua vulnerabilidade, de suas impossibilidades quando precisa dedicar-se mais a si mesmo.


Como profissional da saúde, uma parte significativa do meu trabalho é sensibilizar as pessoas frente a universalidade do sofrimento mental, como parte indissociável da condição humana.


Vale dizer que nenhum ser humano está imune ao adoecimento mental, que está diretamente relacionado a situações de traumas e excessos experimentados ao longo da vida.

Apesar de ser parte de minha rotina ainda é difícil aceitar que o preconceito continue a dificultar o acesso a tratamentos adequados, mesmo em um momento social critico em que todos estão expostos ao mesmo tipo de sofrimento e esta seria uma oportunidade para ampliar a conscientização coletiva sobre o problema.


Não posso negar que observo um aumento das discussões sobre o assunto, mas infelizmente ainda não o bastante para diminuir o preconceito frente ao estigma da “Loucura”.

Seguimos presos ao Mito da Normalidade, conforme aponta Gabor Maté no vídeo abaixo, já que vivemos em uma sociedade extremamente adoecida, mas que não se envergonha em determinar padrões de normalidade inalcançáveis, promove processos de submissão e assujeitamento, anulando toda potência e criatividade que reside no que é peculiar em nós.


Meu desejo é que a passagem pela pandemia possa nos tornar mais empáticos e menos preconceituosos, não por caridade ou otimismo cego, mas por termos vivenciado a mesma crise e quem sabe termos percebido por experiência própria a importância do suporte social a aqueles que precisam de acolhida e tratamento em saúde mental.


Psicóloga Cristiane Dodpoka



 
 
 

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