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SOBRE A DISPONIBILIDADE EM SER VULNERÁVEL


Brené Brown é pesquisadora na Universidade de Houston e estuda há duas décadas temas como vulnerabilidade, vergonha e empatia.

Brené defende a ideia que é somente através de um profundo contato com a própria vulnerabilidade que podemos construir uma existência mais autentica, porque é justamente no encontro com o que é mais vulnerável em nós que podemos perceber nossos talentos e capacidades de enfrentamento a situações críticas da vida.


Em uma de suas citações diz: ‘’ A sua coragem depende da sua disponibilidade de ser pouco ou muito vulnerável “.

Esta passagem me faz pensar nas tantas pessoas que seguem pela vida identificadas com o papel de cuidadoras do mundo e dos outros, e que após algum tempo exercendo esta função, adoecem por falta de cuidados consigo mesmas.

Nesta jornada extenuante, haverá sobrecarga, intenso sofrimento e prejuízo em suas funções sociais e será preciso eventualmente buscar algum auxílio, seja para cuidados da saúde física ou saúde mental.


Este costuma ser um ponto de virada existencial que exigirá intenso trabalho e transformação, já que é bastante sofrido desconstruir uma identidade de alguém que cuida para alguém que agora precisa se deixar cuidar.


Esta é uma boa imagem do que significa confrontar-se com a própria vulnerabilidade, sentir-se dependente, fragilizado e destituído de um papel social consolidado não é tarefa simples, mas a exemplo do sintoma que sempre revela tanto da vida psíquica e é capaz de promover abertura de consciência e conhecimento sobre o mundo interno, aqui concordo com o trabalho de Brené, e percebo que as vulnerabilidades normalmente sempre têm muito a dizer.


No caso que menciono, pode significar abrir espaço para si mesmo, ter menor preocupação com aprovação alheia, e abrir mão de ser um cuidador perfeito, já que a vida é um intermitente intercambio entre cuidar e ser cuidado, sem a necessidade de papeis fixos.

Costumo pensar, sem querer usar aqui um clichê, sobre a natureza e importância das crises e seu potencial profético ao escancarar a necessidade de mudança frente a hábitos nocivos, para quem sabe assim conseguir sobreviver. Aqui relembro a sabedoria de Rubens Alves no livro “Ostra Feliz não faz Pérola”, onde aponta o caráter fundamental dos incômodos para nos fazer seguir em frente.


Para concluir esta reflexão, a ideia de encarar a própria vulnerabilidade como um meio de acessar mais de si mesmo e de perceber as crises como um recurso essencial do crescimento, parece incomoda, mas inegavelmente aponta para questões fundamentais da condição humana, este grande paradoxo que é a conjunção das nossas fragilidades e as insoldáveis capacidades que temos em superar o que quer que seja, desde que nos rendamos a este princípio.


Psicóloga Cristiane Dodpoka

www.psicologacristianedodpoka.com

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